Prisma

A música não tem voz
A imagem não tem corpo
O vento não tem sopro
O esquilo não é como nós

A mente não pensa
O coração não ama
O querer não chama
Não há dor que vença

O tempo não existe
Num corpo nem tudo se vê
Sem luz não se pode crer
A ignorância não persiste

O efêmero nem sempre é quimera
Um blefe pode conter verdade
O passado não traz só saudade
Nem tudo que ruge é fera

Da terra nada se leva
Nem tudo que reluz é ouro
Nem tudo que guardamos é tesouro
Não é preciso viver na treva

O espaço é uma ilusão
Nem todo rei é coroado
Nem todo roto é esfarrapado
A vida etérea não é visão

Nem toda dúvida é uma certeza
Nem tudo que é belo é frágil
Nem todo que passa é ágil
Nem toda lágrima e de tristeza

Quem sente não se ilude
Quem vê cara deve ver coração
Se te derem a mão, tome benção
Nem tudo que machuca é rude

Nem tudo está coberto por um véu
O mais engraçado é o que não é triste
Se você perceber que já não existe
Pode ser que esteja indo para o céu…