Patética

Não há poema
Nenhum sabor de morango
Encravado está o céu
De estrelas em alto relevo
A luz pinga da lâmpada
Grosseiros disfarces de sol
Revelo o segredo ao futuro
Descascando línguas presas
Gaguejadas de timidez
Apresso o ser vencido
Escapulindo entre os ralos
Releio a mão prensada
Concílio de vivências
Abafando o gemido
Dos gritos calados na multidão
O véu escorregou
Deixando antever memórias
O filete de sangue ainda escorre
Passando pelos dias
Deixando um rastro no calendário
Solavancos são amparados
Pelas paredes duras da fé
Descalço venço absurdos
Descubro o sentido de esquecer
O que o futuro reserva
Resmungando vai o cenho
Se deparar consigo
Perante o retorno das cangalhas
Secreto desejo de fugir
Singrando imagens etéreas
Galgando alturas de rodapés
Sentado pelo tranco do peito
Escorraçado das alturas celestes
Febril pelas árvores desterradas
Amassado pelos gritos das sereias
Dez passos além do século passado
Conciso na pequenez
Me atendo a riscos de giz
Sem desprezar o gozo dos guizos
Bizarros, bisonho por tanta busca
Encalhado em águas rasas
Rezando sem oração
Ouvidos pouco aceitáveis
Às decisões sensíveis
De malogro esquecido
Nos idos escritos
Pelos vãos de estradas e esquemas
Cantando pelas prisões
Submersas do vento
Caído pelo canto das verdades
Vendo a imagem invisível
De um espelho profundo
Escancarando os braços para dentro
Em contato com defesas
Em pugna de mediocridade
Aparente pelos rastros
De cicatrizes moldadas
Sem nenhuma dor
Melancolicamente desfeito
Dedos apontando saídas
Sem tons, tonto
Reflexo de sim, tema de não
Prostrado em pé
Como se fosse raiz
Buscando humos, sal e afins
Eficaz pelo pão
Como desfeito pelo raio
Que sempre rompe
O sentido da espera
Já cansado alçando
Alturas infinitas
Em cores brilhantes de correntes
Amassando cristais com esponja
Jogando rios contra a nascente
Apalpando olhos sem visão
Sem direito ao som de vencer
Vencido que dilui sementes
Em viagens entre temores
Temendo ter tomado doces
Sem mel, sem goela
Para ingerir ditos, ritos do mar
Ondulado de riscos para
Brisa e para calma, iria
Vagar nas telhas de tetos
De sonho alquebrado
Pelos movimentos do
Que não vive, não cheira
Não diz, ver-te diria
Vá para cima olhando
Para baixo, tão pequeno
Que não toca a paz
Sem aumentativo
Sem trunfo no destino, só
No canto do olho olhando
A menina dos sapatos verdes
No azul cheiro do mar
Canta, canta o som dos pregos
Que prenderam o passado
Frente ao caminho
Desfaz o nó
Cego vendo brilho
Tateando o escuro
Curto como o vapor do frio
Moldando esferas sem círculo
Cara de gelo qualquer
Fogo derrete, remete
Para dentro tudo
Que está saindo fede
Fecha, não complica a palavra
Não sei escrever nada
Não nado, não sei me afogar
Crer que é tão belo em som
Tão carente em essência
Suplanta o vácuo
Evacua pelas lágrimas
A podridão que te ofende
Fecha o ventre
Livre vai correndo ao encontro
De teu abrigo
Abriga quem vem de cima
Obriga a esperança
A ser respeitada
Não faço rios de tinta
Que não há mar para tanto
Quadro natureza morta
Escreve com a água
Que sai dos olhos enchentes
Por que incolor não mancha a alegria
Só lidam aqueles que solidificam
Com fibras a fé
Subir aos píncaros do cume
Para ver como é
O fantasma é visível
Se lhe dão a forma
Meu passo, espaço de centímetros
Distância que percorro, corro
Em que direção, sigo
Em frente, paro
Parei na tua, em você
Minha chegada, aconchego
Besteira é coisa de besta
Literal ou figurada…