Trovoadas na mente
O coração revolto
A tristeza se faz presente
E o pranto corre solto
A vida está à deriva
No mar do universo
Não há alegria que sirva
Nem a emoção do verso
Esta luta traz cansaço
A esperança sofre desgaste
Minha fibra não é de aço
Procuro apenas o que me baste
Faça dia ou faça noite
Faça sol ou faça chuva
Há sobre mim um açoite
Um peso que me curva
Minha satisfação é tão pouca
O sorriso de uma criança
O olhar de uma mulher – louca –
E a saudade na lembrança
O resto é vivergetar
Sair numa pescaria
No trabalho me jogar
Ou fazer qualquer porcaria
Ainda há a espiritualidade
Que me dá esperança e tristeza
Meu sustento de humanidade
Que me traz dúvida e certeza
Constantemente me cobro e me cobram
Perdi o ímpeto e espontaneidade
São poucas, as coisas que sobram
As tentativas, os erros e a vitalidade
Apesar de tudo tenho gratidão
Faltam-me o êxtase e o amor
O espírito e o homem em união
É este meu pequeno clamor
A solidão é fato
A frustração é verdade
A acomodação é ato
Só existe a vontade
Tanta coisa latente
Tudo a ponto de explodir
E essa confusão demente
De me jogar e me dividir
Distraio-me com coisas fúteis
Procuro provar que penso
Pequenas quimeras inúteis
Para ver, se o vazio venço
Sinto-me amargo
Aprecio a doçura dos bons
Que passam ao largo
Onde estão meus dons
Faço parte do todo
Mas, me acho perdido
Sinto que estou no lodo
Entre o nada dividido
O que dá força ao meu dia
É a natureza e saber que ainda vivo
Mas, à noite tudo se esvazia
Por não saber para que sirvo
Já fui contente e feliz
E plagio que não sabia
Muita coisa fui e fiz
Embora, numa vida vadia
Vivo de música e poesia
E de alguma coisa que não sei dizer
Já tenho o pão e a azia
Falta o circo e o prazer
Sou eterno porque sou efêmero
Sou tudo porque não sou nada
Sou como o que penso e escrevo
Porque sou uma dúvida inacabada
Mas, também, sou filho de Deus
Tão pequeno que nem sei o tamanho
Misericórdia pelos erros meus
Que eu não lhe seja um estranho…